Reflexões sobre a Estrada Real

Sua Senhoria, o Marco

 

Um dos grandes símbolos da Estrada Real é o marco. Trata-se de uma estrutura de concreto, com cerca de dois metros de altura, espessura em torno de 30 cm. De cor ocre, às vezes ferrugem. Os marcos estão presentes em todo o percurso da estrada, em os caminhos, principalmente nos cruzamentos e encruzilhadas, indicando, pelo lado em que se encontra, o rumo que o viajante deve tomar.

No seu topo há um “bico”, em forma de cunha, que não indica a direção a ser tomada. Nele há o emblema do Projeto Estrada Real. Logo abaixo, há o esquema de um mapa, indicando a localização aproximada (“Você está aqui”), Uma plaqueta de metal (às vezes ausente, traz pequeno resumo sobre a história daquele local e a indicação da cidade anterior e da próxima. Há também uma numeração, que ajuda quando utilizada junto com as planilhas de navegação disponíveis no site.

A manutenção dos marcos ficam a cargo das prefeituras. Muitas vezes eles estão escondidos pela vegetação. Outras, soterrados por deslizamentos. Há também casos em que foram mudados de lugar por algum funcionário desavisado, pregando verdadeiras peças nos viajantes.

Quando começamos a pesquisar sobre a Estrada, olhando os roteiros na internet e os aplicativos de simulação, como o Street View, localizá-lo é sempre uma alegria. Quando iniciamos a viagem, a vontade é parar e fotografar cada um. Dá vontade de chamá-los de “majestade”. Com o decorrer da viagem, vamos nos acostumando com a presença deles. Ficamos buscando de um lado e de outro, querendo encontrar este personagem que cisma em se disfarçar e confundir-se com a paisagem. Às vezes ocupa posição de destaque, exuberante e altaneiro, no alto de um barranco, como verdadeiro sentinela. Às vezes está mineiramente escondido, tímido, disfarçado em meio à vegetação.

Muitas vezes dá uma saudade deles… Quando rodamos 4 a 5 quilômetros e não o vemos, vai dando aquela sensação de “será que estou no caminho certo?”. Lembramos do marco e ele nos parece aquelas pessoa querida que há muito não vemos. Será que está distante? Será que “seguiu” por outros caminhos? Será que nunca mais vou revê-lo?. Então, quando, mais á frente, o encontramos e vemos que a rota era aquela mesmo, queremos parar, abraçá-lo e chama-lo de “Amigo”.

Mas como todo bom amigo, às vezes nos deixa em situações embaraçosas. Isto acontece quando estamos indo muito bem, estradinha de terra, bem batida, segura, confortável e o tal do nosso amigo, aparece de repente na lateral, nos mandando seguir por um caminho sinuoso, esquisito, esburacado e sombrio. Então o odiamos por alguns minutos. Amigo é aquele amigo brincalhão, que zomba da nossa cara, que nos traz desafios inesperados. Nestes momentos de despeito e frustração, nos dá vontade de chama-lo “Amigo da Onça”.

Mas sabemos que ele sempre quer nosso bem. Está ali para nos ajudar, nos orientar, adora uma foto com a gente. Não é muito urbano (não é fácil ser encontrado nas cidades), mas na zona rural está sempre garboso e elegante, assistindo a tudo que se passa pela mais importante rota turística do Brasil. Como bom brasileiro, ele não desiste de nós nem de sua missão. Mesmo mal tratado, esquecido e desprezado pelas autoridades, está firme na sua missão de conduzir e informar. Ele mostra, indica, ensina, sem esperar reconhecimento.  Nesta hora, pensamos em chama-lo “Professor”.

Então, pela sua importância, sua postura e sua utilidade, ele merece, sim, ser tratado como “Sua Senhoria, o Marco”.

Projeto Estrada Real

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Trajeto aproximado (o Google não permite mais de 10 pontos viários e limita o número de alterações)

Finalmente está pronto meu mais novo projeto: Percorrer a Estrada Real, de moto, por todos os caminhos. Respeitando, sempre que possível, o trajeto original (90% em estrada de terra).

A ideia é começar pelo Caminho Novo, saindo de Mauá, Município de Magé, no fundo da Baía da Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro. Subir a Serra de Petrópolis pela antiga Estrada União e Indústria (paralelepípedos). Passar por Petrópolis, e daí seguir para Secretário e Paraíba do Sul. A partir daí é praticamente tudo estrada de terra até Lavras Novas-MG, pertinho de Ouro Preto.

De Ouro Preto, partirei pelo Caminho dos Diamantes, até Diamantina. Todos os relatos dizem que é a parte mais bonita da Estrada Real.

De Diamantina retornarei por asfalto (simples deslocamento), cerca de 350 km até Cocais, onde iniciarei o Caminho de Sabarabussu, até Glaura, distrito de Ouro Preto.

Voltando a Ouro Preto, farei o Caminho Velho até Paraty – RJ, passando pelo Vale do Paraíba, no norte do Estado de São Paulo.

Minha moto é uma Falcon (NX 400), ano 2013, com pneus Karoo III. Quero viajar com calma, fazendo no máximo 200 km por dia. Tenho 15 dias para todo o trajeto.

Ainda não sei se minha esposa vai na minha garupa. Espero que vá. Tenho esperança de que algum companheiro consiga me acompanhar, pelo menos em algum trecho. De qualquer forma, estou me preparando mental e psicologicamente para ir sozinho. Nunca fiz isto antes, mas será um grande teste, um desafio a ser vencido na solidão do capacete.

 

Roteiro aproximado (não está exato porque o Google Maps limita o número de pontos viários e alterações):

https://goo.gl/maps/wuttKKSmoFr

Minha vida em Duas Rodas

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Com os amigos fundadores dos “Bastiões da Estrada”

 

Comecei a andar de moto quando tinha 18 anos. Era o ano de 1984 e minha moto era uma CG 78, bem caidinha. Mas suficiente para me fazer feliz naquela época.

Em 1988, já professor da rede pública estadual, consegui comprar uma Turuna, bem mais inteirinha. Todo dia andava com ela 36km em estrada de chão.

Em 1990 consegui comprar a moto dos sonhos. Uma XL250R, ano 1983. Moto linda. Para mim sera super potente. Tirava onda.

Com ela fiz minha primeira “grande viagem. Fui da minha cidade (Santa Maria Madalena, na Região Serrana do RJ) até Araruama, na Região dos Lagos. Cerca de absurdos 200 km, passando por cidades ainda nunca transitadas por mim. Agora parece brincadeira, mas na época foi uma grande aventura.

Casei-e em 1994 e logo veio a primeira filha. Com a esposa grávida, tive que me desfazer da moto. Fiquei triste e a Paula, minha esposa, mais triste ainda. Troquei num fusca que me deixou a pé logo no dia do nascimento da minha filha Thayane.

O tempo passou e as coisas se ajeitaram. O sonho de voltar a andar de moto nunca morreu. Em 2004, comprei uma XR 200 para “reaprender” a andar. Foi difícil, fazendo curvas sem inclinar a moto e levando couro de biz. Mas me readaptei.  Agora moto era para lazer. Não precisava dela pra trabalhar.

Com alguns amigos, criamos o Moto Grupo “Bastiões da Estrada”. Fazíamos passeios pelas cidades vizinhas e regiões rurais do município. Chegamos a  fazer viagens um pouco maiores, como Mariana /Ouro Preto, quase 1000 km ida e volta.

Em 2006, comprei minha primeira Falcon. Com ela conheci o grupo de internet “Falcon On Line”.  Ali conheci pessoas fantásticas que se tornaram amigos reais. Fui a vários encontros pelo Brasil e tive o prazer de receber muitos amigos em minha casa.

Em 2012, já com a Transalp, e fazendo parto do Moto Clube Bodes do Asfalto, fiz minha primeira viagem internacional para o Deserto do Atacama,voltando passei pelo Uruguai.

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Serra do Corvo Branco, Santa Catarina, em 2009
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Pirapora – MG – 2010

 

 

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Paracatu – MG – 2012

 

 

 

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Com os amigos do Falcon On Line (FOL) em Pouso Alegre – MG – 2009
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Curitiba, com a esposa Ana Paula, encontro FOL – 2011
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Nascer do sol – Norte da Argentina – 2012

 

 

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Ruinas Jesuíticas – Argentina – 2012
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Subindo a Cordilheira dos Andes – 2012

 

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Deserto do Atacama – Chile – 2012
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Em Curvelo – MG, a caminho da Chapada Diamantina – 2015

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Chapada Diamantina – 2015

Depois de conhecer 10 estados brasileiros e quatro países da América do Sul, de moto, sem um tombinho sequer, um acidente, a 1 km de casa, quase me leva desta vida. Atropelei uma vaca, me ralei todo, quebrei a mão e destruí minha moto.

No ano passado, de volta a Falcon, que, perto da Transalp, é pequena e leve, reativei um antigo sonho: fazer a Estrada Real, de Ponta a Pontas, respeitando, sempre que possível, o trajeto original.

E é desta viagem que iremos tratar aqui no Blog.

 

Me apresentando…

Brasília-Patos de Minas - 2012-1 024Meu nome é Giovani Buzzi. Tenho 52 anos, casado, três filhos, funcionário público e pequeno empresário.

Moto para mim é renovar de energia. É aquilo que me dá um prazer que lembra criança com brinquedo novo.

Ando de moto desde meus 18 anos, quando adquiri minha primeira CG 1978. Depois tive Turuna, XL250R (que saudade!!!!). Logo depois de casado, a vida me obrigou a ficar 10 anos sem moto. Voltei ao mundo das Duas Rodas em 2005, com um a XR 200. Depois tive Falcon (2) e Transalp (com esta conheci 10 estados do Brasil e 4 países da América do Sul). Depois de um acidente no ano passado, vendi a Transalp e voltei para a Falcon.

Com a Falcon, leve, valente e confiável, reativei alguns sonhos, como percorrer por inteiro a Estrada Real.

Ainda tenho muitos sonhos a realizar. Viajar de moto está sempre entre meus projetos.

Criei este blog para compartilhar minhas experiências, auxiliando quem está planejando viagens. Também é uma forma de demonstrar meu agradecimento pelas informações e dicas que sempre obtive na internet, especialmente em blogs e fóruns.